Após 50 anos ainda querem que a ‘dita’ volte

Nesta última semana muito se falou a respeito dos 50 anos de Golpe Militar. Foram palestras, debates, documentários, matérias especiais nos mais diferentes tipos de imprensa. No meio de toda discussão, uma voz curiosa se levantou em defesa da volta do Regime, deixando a classe intelectual do país se questionando: como pode alguém clamar pelo retorno da Ditadura?

Para artistas, escritores, jornalistas, sindicalistas e outros formadores de opinião, o mal do período só começou no final de 1968 com a aprovação do Ato Institucional Número Cinco (AI-5). Esse decreto impôs uma linha rígida contra qualquer voz que se levantasse contra a opressão do regime. Em menos de um ano mais de 900 pessoas foram mortas ou desaparecidas. Outras milhares foram obrigadas a pedir abrigo em outros países porque não podiam manifestar seus pensamentos publicamente. Crianças foram separadas de seus pais, brasileiros tiveram que se submeter a difíceis situações no exterior e famílias foram devastadas por conta de uma luta cruel contra a resistência cultural que defendia a liberdade de expressão. Ainda hoje, após 50 anos, ainda existem famílias que não tem qualquer informação sobre o paradeiro de familiares mortos sob tortura.

A propósito, que tipo de governo humano pode aceitar a tortura como forma de obtenção de informação e de repressão à ameaça de um sistema político como o comunismo? A agressão contra os direitos humanos foi um crime cometido pelos militares e que até hoje continua sem a devida explicação.

Nem mesmo o cidadão comum podia se informar através de uma imprensa independente. Qualquer registro que o Regime considerasse ofensivo era censurado, o que gerou a criação de um mundo fantasioso ao gosto do comando militar nacional.

Enfim, como desejar o retorno de uma ditadura militar? Por 20 anos vivemos uma repressão e o seu fim mostrou que o poder dos militares não era perene. A voz do povo suplantou o regime ao levantar a bandeira da democracia. O que acontece hoje é que o mesmo grupo que se libertou não conseguiu dominar sua própria liberdade, mas ainda temos como transformar, de maneira livre, o país em que vivemos.

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