ABC pode virar uma nova Detroit

Fundamental para a economia do ABC, a indústria metalúrgica está em franca decadência. As grandes montadoras da região (Ford, Volkswagen, Mercedes e General Motors) sofrem com a baixa nas vendas, catapultada pela forte crise econômica por que passa o país.

A culpa, desta vez, não é dos impostos. Pode-se atribui-la a uma complexa situação macroeconômica e também ao modelo de crescimento que foi adotado no país durante os anos de 2003 e 2013 que, após uma década de sucesso, se mostrou frágil para superar seu apogeu.

Vale lembrar que os brasileiros passaram a ter maior poder aquisitivo, mas esse foi notadamente baseado no crédito farto que passou a ser oferecido no mercado. Isso, somado aos fatos de que (como herança dos tempos de hiperinflação) o cidadão de nosso país tende a contabilizar apenas o que é possível pagar e não o Custo Efetivo Total do bem e que as montadoras aproveitaram esse fato para “estourar” o valor dos bens de consumo fez com que a bolha econômica estourasse.

Faltou aos empresários um pouco de sensibilidade para perceber que o mercado brasileiro precisaria de um novo planejamento. Isso não foi feito e a conta veio cara (e a cavalo). Voltando a nossa região, dado o cenário, não é surpresa que as empresas estejam quase paradas. Pelo contrário, a surpresa é que a velha desculpa do “custo Brasil” não vem sendo usada e os empresários parecem ter acordado da “letargia” e revisto seus preços.

A já citada GM, por exemplo, cortou os valores de seus veículos. A Fiat/Chrysler tem vendido muito bem carros de níveis superiores, como o Jeep Renegade que tem como público alvo os públicos A e B (que tem sofrido menos com a crise) e cujos valores são aceitáveis em relação ao que se cobra por modelos “populares”. Fato é que, impulsionada pela boa década passada, a indústria brasileira se viu em ceu de brigadeiro e hoje vê que o fundo azul era virtual e escondia pesadas nuvens negras.

No nosso dia a dia, o ABC sofre. Sem as montadoras, a economia da região para de girar e faz com que outros setores também sofram. O risco é que, com o tempo, se a situação não se reverter, passemos a ver um movimento inverso, de pessoas indo embora em busca de oportunidades em outros centros. É urgente que uma ampla discussão seja feita para redefinir metas e objetivos para nossa região. Caso contrário, não é longe da realidade pensar no ABC como uma nova Detroit que, há um ano e meio, decretou falência após a falência de diversas indústrias da cadeia automotiva. Hoje, a cidade dos EUA, que chegou a ser considerada fantasma, ter 60% da iluminação pública cortada por falta de dinheiro e que viu sua população cair de 2 milhões para 700 mil habitantes, tenta se reerguer vendendo lotes abandonados a US$ 100 (R$ 376 na cotação de 2 de setembro) e lutando contra uma das maiores taxas de criminalidade do planeta. Sombrio? Sim. Distante de nossa realidade? Infelizmente nem tanto.

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