A vida também é feita de diversão e arte

“A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”. Os famosos versos da música Comida, dos Titãs, banda que abriu brilhantemente o Festival do Chocolate na semana passada (e foi capa do Mais Notícias) ilustram perfeitamente o momento de Ribeirão Pires.

Por um lado, entraremos na segunda semana do Festival do Chocolate. Por outro, munícipes têm reclamado de diversas deficiências na cidade, passando por serviços de saúde e de obras pendentes, entre outros. O questionamento é sobre o porquê de se gastar para organizar a festa quando há tantas pendências sociais e, com o incorreto (embora justo) argumento de se tirar verbas de um setor para se colocar em outro.

Vamos por partes. Primeiramente, retomando a citação inicial, diversão e arte são tão importantes quanto a comida. Aliás, estudos comprovam que as pessoas que têm mais engajamento em atividades culturais, seja de forma criativa ou receptiva, tinham melhor saúde, com menos sintomas de ansiedade e depressão. Ou seja: prover cultura – que também é dever de estado – ajuda na saúde pública e não é “dinheiro jogado fora”.

Mais do que isso, há leis a se cumprir. Como todos sabemos (ou deveríamos saber), cada pasta tem seu próprio orçamento e ele deve ser cumprido. Diferente do que é feito em casa, quando podemos decidir se iremos ou não pagar alguma conta ou quanto iremos pagar no cartão de crédito, alterações nas dotações orçamentárias são feitas por meio de lei que precisa ser aprovada pela Câmara. Desta forma, é incorreto (para não dizer leviano) dizer que dever-se-ia “tirar dinheiro” de um evento para investir em outro setor. Não é tão simples assim.

Além de tudo, vale ressaltar que, seja em âmbito federal, estadual ou municipal, as verbas existem. Já foram pagos, de acordo com o Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo, mais de R$ 1,2 trilhão de reais este ano apenas em impostos, dinheiro esse que, fechadas as torneiras da corrupção e do desperdício, é muito mais do que suficiente para tocar o país.

Mais uma vez, não achamos incorretas manifestações contrárias a realização do Festival. Muito pelo contrário, elas são justas. Entretanto, pensamos que tudo deve ser feito da forma correta. A questão não é o quanto se gasta, mas sim como se gasta e qual o retorno financeiro e institucional. É inegável que Ribeirão Pires ganha muito em organizar a festa que já é uma tradição na cidade. O que deve entrar em discussão é como ela deve ser feita, se em formato menor, maior ou com menos artistas renomados. Cabe lembrar que a grande circulação de público e a grande movimentação financeira não estão sob a tenda, mas sim do lado de fora, com os artistas de menor porte e locais, além das atrações gastronômicas que, a bem da verdade, são o Festival do Chocolate.

Se há algo errado, deve ser corrigido. Se há injustiças, estas devem ser eliminadas. Mas sempre respeitando os princípios da cidadania e do respeito. Afinal de contas, parafraseando outra música dos Titãs, “quem quer manter a ordem? Quem quer criar desordem?”

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