A vergonha e o fundo do poço em Mauá

Prefeito preso. Quase todos os vereadores investigados. A política municipal implodida. Essa é Mauá, uma das maiores cidades do país que sofreu um verdadeiro cataclisma após a descoberta de um esquema de corrupção e compra de votos que chocou o país.

O grupo, junto a um ex-secretário, foi indiciado pelos crimes de corrupção ativa e passiva e de integrar organização criminosa (o antigo crime de Formação de Quadrilha), fatos apurados pelas investigações da operação Trato Feito.

Como resultado, a cidade encontra-se em outra inesperada fase de transição e com o futuro como uma incógnita. Não por acaso, a prefeita em exercício Alaíde Damo deu uma declaração forte na última terça-feira: “Mauá Acabou”.

Ora, se é “só o fim”, como dizia uma conhecida música da banda Camisa de Vênus, como será então o recomeço? Em que se pese os esforços da nova comandante do município, está sendo a passos lentos, até porque há sobre a mesa da presidência da Câmara Municipal de Mauá mais de uma dezena de pedidos de impeachment. E isso será fundamental para dar ao menos uma esperança de estabilidade, sabendo que o mandatário afastado, Átila Jacomussi, não poderia retomar o cargo sob o risco de ter de deixá-lo outra vez, tendo em vista que o processo segue em andamento.

Vale lembrar que não é a primeira vez que a Casa analisa um pedido de impeachment contra Átila. No ano passado, em duas oportunidades, isso já aconteceu. Ambas foram rejeitadas, mas serviram como uma espécie de “atestado de culpa”, já que os 22 votos contrários à abertura do processo foram proferidos pelos vereadores apontados como beneficiários do esquema de corrupção. Agora, com as autoridades no encalço, a tendência é que o resultado seja diferente até mesmo pelas palavras proferidas à imprensa pelo presidente, Vanderley Cavalcante da Silva, o Neycar, de que o impedimento seria uma forma de acalmar a situação caótica da política municipal embora acolhê-lo, tendo em vista o indiciamento, seria uma nova confissão de culpa. Afinal, julgar alguém por um crime do qual faz parte equivale a uma espécie de “auto-punição”.

Respondendo à pergunta inicial, o recomeço da situação mauaense, que pode ser estendido à política brasileira como um todo, passa não só pela reorganização mas também pela moralização dos agentes políticos. Ora, se a função é cuidar do futuro, não é admissível vender a ética e a moral por alguns quinhões. O alívio imediato chega, mas compromete a vida de dezenas de pessoas. Será que realmente vale a pena? Fora que a conta vem alta, tanto por comprometer a carreira política quanto por atingir até mesmo pessoas que nada tem ver com a ganância alheia.

As eleições de outubro passado, com a alta taxa de renovação do Congresso, mostram que não se admite mais negociatas, “acertinhos” ou similares. Pelo contrário, deixaram claro que o eleitor quer mudanças. Ainda que tenha feito escolhas questionáveis, fica nítido a vontade pelo novo não só na forma, mas também no conteúdo.

Que esta crise seja o início de novos bons tempos. Caso contrário, pode ser indício de que o fundo do poço ainda não chegou – e isso pode trazer prejuízos extremos a toda a população.

 

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