A imprensa à sombra da corrupção

Há pouco mais de quatro meses, aqui mesmo neste espaço, falamos sobre a condenação do empresário Ronan Maria Pinto, dono do Diário do Grande ABC, a 10 anos de prisão por ser um dos líderes de um esquema de cobrança de propina em empresas de transporte contratadas na Gestão Celso Daniel na Prefeitura de Santo André.

Já naquela ocasião, lamentamos o fato de isso envolver o nome de uma publicação que é referência no país, ficando arranhada pelo fantasma do dinheiro ilícito. E, não é que a justiça do Paraná deixou o arranhão ainda mais profundo?

Desta vez, a acusação é que o dinheiro usado para a compra da publicação teria origem em propina (acusação feita por Marcos Valério) que, por sua vez, teria sido paga com dinheiro oriundo de corrupção por meio de um empréstimo fraudulento contraído junto ao Banco Schahin com o “dedo” de José Carlos Bunlai, o “amigo de Lula”. Para completar, ele ainda omitiu à Receita Federal o valor real da transação que, após investigação, foi aferida com um valor quatro vezes superior.

O empresário – dono de negócios envolvendo o transporte público de Santo André – também é conhecido por algumas, assim por dizer, “ligações perigosas” que, inclusive, chegaram a vincular seu nome, junto com o de Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, à morte do já citado prefeito Celso Daniel – caso esse que, dependendo do desenrolar das investigações da Lava Jato, pode até mesmo ser reaberto.

É muito triste ver que o poder econômico pode trazer uma mancha irreparável à imprensa da região, para não dizer do país. Estamos falando do maior veículo de comunicação regional do Brasil e o mais importante da região que, por conta de seu proprietário, pode ver uma história de mais de 60 anos se perder nas trevas da corrupção.

O que esperamos, como órgão de imprensa é que tudo isso seja devidamente apurado pelas autoridades competentes e que os eventuais criminosos sejam punidos. Quanto ao jornal, ainda que nada se confirme, a postura mais correta por parte do empresário talvez seja se desfazer do periódico, em respeito à sua história. Como justificativa a essa afirmação, damos a postura do presidente do Peñarol, Juan Pedro Damiani, que, ao ver seu nome envolvido no Panama Papers, escândalo de empresas offshore (não declaradas) montadas para obter vantagens fiscais ou até mesmo esconder dinheiro de origem ilícita em paraísos fiscais, renunciou ao cargo no comitê de ética da FIFA. Não só no caso de Ronan, mas também em outros, talvez fosse bom se a moda pegasse.

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