A ciência da exigência vazia

Chegamos, mais uma vez, à semana da República, marcada pelo feriado do dia 15 de novembro data em que, há 122 anos, o Marechal Deodoro da Fonseca declarou o fim do Império e o começo de uma nova era, mais democrática, com participação popular mais incisiva – ou que, ao menos deveria ser desta forma, já que os mesmos velhos grupos oligárquicos acabaram se mantendo no poder, não raro, até hoje.

A letra fria reza que a Democracia é “governo do povo; governo em que o povo exerce a soberania”, um sistema inviável como já é claro e cristalino, daí a necessidade da adaptação para “sistema político cujas ações atendem aos interesses populares”, com o adicional “realizadas por representantes escolhidos pela população”.

Estas belas palavras, com o passar dos tempos, acabaram por ter seus significados distorcidos devido à velha mania humana de tentar reverter as situações em benefício próprio. Isso posto, não é surpresa ver algumas declarações do tipo “estamos numa democracia e tenho direito de falar e fazer o que eu penso”. Ora, recorrendo novamente à letra fria, isso demanda a “negação de qualquer tipo de autoridade”, um “estado de confusão, bagunça; esculhambação”, ou seja, uma Anarquia.

Isso posto, não raro, vemos situações como a ocorrida no campus da USP, a melhor universidade do país e uma das melhores do planeta, na última semana, em que o válido direito ao protesto foi extrapolado fazendo com que uma manifestação virasse caso de Polícia por mero descumprimento de regras, já a reintegração de posse estabelecida pela Justiça foi solenemente ignorada. Ou seja: foi dado um “bico” em um instituição democrática. Faltou o respeito.

Da mesma forma acontece na Internet. Vista como um território de ninguém, onde ofensas gratuitas são ditas sob a prerrogativa de se “estar exercendo o direito democrático de opinião”. Não raro, vemos o que hoje é chamado de bullying acontecer com diversas pessoas, em novas mostras claras da falta de respeito. Pois bem, liberdade não é libertinagem e para exercer um direito, deve-se respeitar o direito alheio. É justo exigir os direitos, mas também é correto saber que sua liberdade termina onde começa a do outro, seja na vida real ou na virtual. As pessoas, aliás até sabem disso, mas, ao que parece, se esquecem quando lhes convém.

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