A campanha política versão 2.0 veio para ficar?

Há um fenômeno que está se fazendo cada vez mais presente e que preocupa, mas até o momento ainda não foi debatido: o silêncio eleitoral.

Para quem não conhece, é a mais nova (e bem sucedida) estratégia de marketing político: calar-se ante os rivais, furtando-se ao debate de ideias que, até então, era o que balizava a escolha do eleitorado, especialmente se o candidato lidera as intenções de votos.

Este método, fazendo uso da chamada teoria das “bolhas de redes sociais” (e das redes sociais propriamente ditas), produz os chamados candidatos “perfeitos”, com discurso estrategicamente alinhado ao seu público-alvo e longe das polêmicas. Devidamente blindados por seus assessores, tornam-se meros garotos-propaganda, lembrando artistas famosos que emprestam seu rosto e prestígio a produtos que, não raro, sequer utilizam no dia a dia.

Foi assim na eleição presidencial que, fato inédito, teve uma sequência de debates cancelados, com o candidato vencedor limitando-se a falar dentro de sua “caixinha” para um público específico e, em suas poucas entrevistas, falar apenas a jornalistas “parceiros” e mediante prévio estudo das perguntas e elaboração das respostas por seus assessores.

Funcionou, claro, mas levou o eleitor que o escolheu a dar o chamado “tiro no escuro”, a ponto de servir no pós-eleição de caixa de ressonância a fala de que é “preciso torcer para dar certo” – embora não se saiba exatamente quais as jogadas que o time é capaz de fazer.

Fenômeno similar aconteceu ontem, na eleição para presidente da Câmara vencida por Rato Teixeira que, a exemplo de Zé Nelson em 2014 registrou oficialmente sua candidatura no apagar das luzes, furtou-se a participar de debates públicos sobre sua plataforma de governo, tendo colocado suas propostas apenas para seu colégio eleitoral – o suficiente para vencer.

Fazendo um paralelo, há uma definição jocosa sobre especialistas: pessoas que sabem cada vez mais de cada vez menos cuja atuação quando confrontados com situações além de seu domínio é uma verdadeira incógnita. A campanha, desta feita, acaba induzindo o cidadão a eleger um governo imprevisível: não se sabe o que os candidatos pensam além das amarras publicitárias, tampouco as suas atitudes quando confrontados diretamente por opositores. Usando a ironia outra vez, podemos classificar como o “Candidato Kinder Ovo”: é impossível saber o que vem dentro antes da posse.

Para desespero dos puristas, tal movimentação silenciosa parece estar virando padrão, o que preocupa para 2020. Não basta a um candidato se manter recluso. É preciso ouvir e, principalmente, se posicionar diante do cidadão. Tal postura pode até ganhar eleições, mas dificilmente ajudará na manutenção do grupo no poder. Afinal de contas, todo empresário sabe: ao contratar sem fazer ao menos uma entrevista, assume-se o risco desnecessário de se contratar errado.

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