A assustadora face do Congresso

Pode até ter sido “feita a vontade da maioria”, mas ficou uma sensação estranha para muitos, independentemente da posição favorável ou contrária ao impeachment. As quase 10 horas ao vivo em rede nacional mostraram à população brasileira uma faceta desconhecida para muitos: a Câmara e a qualidade dos deputados eleitos pelo povo.

Nua e crua, vista com seus mandos e desmandos, os cerca de 30 segundos que cada um dos mais de 500 deputados teve para colocar seu voto foram, em maioria absoluta, um grande show de horrores, com poucas exceções – uma delas (supreendentemente) o deputado Tiririca que, pela primeira vez em cinco anos de mandato, fez uso do microfone.

As declarações de votos – na verdade justificativas – foram as mais criativas, citando Deus, família, proletariado, trabalhadores, desempregados, negros, gays, quilombolas, externando posição contra corrupção, contra o golpe, contra o sexismo e pelos “moradores de rua que vivem na rua” (sic). Também houve os investigados por corrupção se manifestando contra os corruptos, além de troca de ofensas, cusparadas e, dentre aqueles que buscavam um pontinho com seus eleitorados locais dedicando seu voto a eles, houve até mesmo um hilário (ou trágico) caso de uma deputada que declarou seu voto citando seu marido como exemplo de boa conduta desmentida menos de 24 horas depois com a prisão do dito cujo por corrupção. Poucos citaram o real motivo de estar ali, que era avaliar se Dilma Rousseff, presidente da República, cometeu ou não um crime de responsabilidade.

Em um âmbito maior, é seguro dizer que a quase totalidade dos presentes, legislava em causa própria e não pela população ou, ao menos, seus eleitores (que não são poucos). Ver a república despida de seus vernizes assusta e mostra que a qualidade dos “nossos” representantes deixa muito a desejar. Talvez ajudados pela magia do palanque eletrônico, da edição de vídeo ou do dinheiro, alguns tenham chegado lá sem a mínima condição de representar a população brasileira. O mínimo que se espera em um momento como esse é postura e seriedade e não gritos histéricos a favor ou contra quem quer que seja.

Isso posto, é possível refletir sobre uma velha indagação: por que um número tão alto de deputados? Por que um número tão grande de partidos? Por isso, já que o momento é de passar o país a limpo, é preciso tirar as reformas do papel, começando pela Reforma Política, que vai muito além de mudar a forma de cálculo dos eleitos, lembrando que apenas 36 dos 513 deputados se elegeram sem fazer uso da regra da proporcionalidade. É preciso também rever se realmente são necessários tantos deputados, se não é possível limitar ministérios, cargos comissionados e, principalmente, o número de partidos, já que hoje, a fragmentação torna o país praticamente ingovernável, seja para estes ou para os próximos presidente, governadores e prefeitos.

Mais do que isso, nós, enquanto população, devemos nos atentar a quem depositamos os votos. Ou será que os cidadãos de bem desejam assistir a outro show de horrores como o do último domingo?

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